Odair Nunes Advocacia

A empresa quer que eu abra MEI: golpe disfarçado de oportunidade

A cada dia, mais trabalhadores enfrentam uma proposta duvidosa: a empresa exige que eles abram MEI para continuar trabalhando. À primeira vista, isso pode parecer vantajoso; no entanto, a realidade é bem diferente. Essa exigência nada mais é do que uma manobra para reduzir direitos e transferir custos para o trabalhador.

Além disso, essa prática, conhecida como pejotização, desrespeita a legislação trabalhista e, consequentemente, pode trazer sérias consequências para o empregado. Por isso, é essencial entender melhor os perigos dessa exigência e saber como agir diante dessa situação.

 

O que significa abrir um MEI para trabalhar?

O Microempreendedor Individual (MEI) foi criado com o objetivo de formalizar pequenos negócios e atividades autônomas. Primeiramente, ele permite que profissionais trabalhem por conta própria, emitam notas fiscais e usufruam de um regime tributário simplificado. No entanto, muitas empresas utilizam essa modalidade para mascarar uma relação de emprego e, assim, evitar encargos trabalhistas. Como consequência, ao aceitar essa exigência, o trabalhador acaba perdendo direitos essenciais, tais como férias remuneradas, 13º salário e benefícios previdenciários. Portanto, é fundamental que tanto os trabalhadores quanto as empresas compreendam as implicações dessa prática.

 

Quais direitos o trabalhador perde ao virar MEI?

Quando um empregado é registrado, ele tem acesso a uma série de direitos garantidos pela CLT. Ao se tornar MEI, ele deixa de ter:

  • 13º salário

  • Férias remuneradas

  • Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)

  • Seguro-desemprego

  • Adicional de horas extras e noturno

  • Licença-maternidade e paternidade

  • Vínculo empregatício reconhecido

Ou seja, a empresa economiza e joga para o trabalhador toda a responsabilidade, inclusive tributos e encargos.

 

Por que as empresas querem que você abra MEI?

As empresas adotam essa prática, principalmente, para pagar menos impostos e encargos trabalhistas. Dessa forma, em vez de arcar com obrigações legais, elas transferem para o empregado a responsabilidade sobre tributos e obrigações previdenciárias. Consequentemente, isso gera economia para a empresa, mas, por outro lado, precariza o trabalho e expõe o profissional a riscos financeiros e jurídicos.

Além disso, essa manobra dificulta ações trabalhistas. Por exemplo, se um trabalhador MEI tentar reivindicar direitos na Justiça, a empresa pode argumentar que ele era um prestador de serviço, e não um empregado. No entanto, é importante destacar que a legislação protege o trabalhador, pois há jurisprudência reconhecendo esse tipo de fraude.

 

A pejotização é ilegal?

Sim! O Tribunal Superior do Trabalho (TST) e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) já estabeleceram que a pejotização é ilegal quando há vínculo empregatício. O artigo 3º da CLT define que um empregado é aquele que presta serviços de forma pessoal, habitual, subordinada e mediante pagamento de salário. Se esses requisitos estão presentes, a empresa não pode exigir a abertura de MEI.

Mesmo que a empresa faça um contrato de prestação de serviços, ele pode ser anulado judicialmente. O trabalhador pode ingressar com uma ação para o reconhecimento do vínculo e exigir os direitos trabalhistas que lhe foram negados.

 

Como agir se a empresa pedir para você abrir MEI?

Se a empresa quer que você abra MEI para continuar no trabalho, siga estas orientações:

1. Não aceite sem antes consultar um advogado

Primeiramente, não aceite a proposta sem antes consultar um advogado.
Antes de tomar qualquer decisão, é essencial que você consulte um advogado trabalhista. Ele poderá analisar sua situação detalhadamente e orientá-lo sobre os riscos e as medidas cabíveis.

2. Reúna provas do vínculo empregatício

Caso a empresa insista nessa prática, guarde provas que demonstrem que você é um empregado e não um prestador de serviço. Isso pode incluir:

  • Mensagens de WhatsApp e e-mails com ordens diretas da empresa

  • Controle de ponto ou registros de horário

  • Comprovantes de pagamento

  • Testemunhas que possam confirmar sua subordinação

3. Denuncie ao Ministério do Trabalho

Posteriormente, denuncie ao Ministério do Trabalho.
Você pode fazer uma denúncia anônima ao Ministério do Trabalho e à Receita Federal. Vale ressaltar que essas práticas são fiscalizadas, e a empresa pode ser penalizada.

4. Se necessário, ingresse com uma ação trabalhista

Por fim, se necessário, ingresse com uma ação trabalhista.
Caso você sofra prejuízos e seu vínculo empregatício seja negado, um advogado poderá ingressar com uma ação para reconhecimento do vínculo e pagamento de todas as verbas trabalhistas devidas.

 

Empresas que obrigam o trabalhador a ser MEI podem ser punidas

As empresas que praticam a pejotização podem sofrer sanções administrativas e a Justiça do Trabalho pode condená-las. Além disso, elas devem pagar todos os direitos ao empregado, além de poderem receber multas e serem obrigadas a regularizar seus contratos.

Portanto, se a empresa sugerir que você abra um MEI, desconfie! Isso porque ela pode estar tentando driblar a legislação e retirar direitos trabalhistas fundamentais. Assim, abrir um MEI para continuar no mesmo trabalho não significa ganhar autonomia, mas sim enfrentar a precarização. Dessa forma, se você estiver passando por essa situação, busque orientação jurídica imediatamente para proteger seus direitos.

É importante destacar que as empresas não podem se aproveitar do desconhecimento dos trabalhadores para impor condições injustas. Afinal, o trabalho digno e com direitos garantidos deve ser a regra, nunca a exceção!

ODAIR NUNES - OAB/SP 409.330

Advogado especializado na área trabalhista, conhecido por sua atuação competente e dedicada. Criador do canal Saber Trabalhista, voltado para a disseminação de conhecimento trabalhista, oferecendo artigos e ajudando os interessados em saber mais sobre seus direitos!

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